segunda-feira, 9 de julho de 2012

ZÉ DAS PEDRAS

ZÉ DAS PEDRAS

O sol ardia, o clima seco dava impressão de mais calor, eu acabava de chegar a minha roça de onde tirava o que precisávamos para o nosso sustento,mas o meu principal meio de trabalho eram as pedras que tirava de minhas terras.
Casado e com seis filhos não era possível viver com fartura, mas graças ao bom Deus fome nunca passamos e também sempre acolhíamos os que nos procuravam, até mesmo os homens de meu compadre Conselheiro.
As pedras que eu tirava eram usadas nas estruturas das casas da cidade, muito conceituado eu sempre era solicitado pela população para fornecê-las, mas nesse dia não havia ninguém acolhido em minhas terras.
Estava distraído quando o barulho dos cavalos me chamou a atenção, ao me voltar já estava cercado por uma tropa de soldados, queriam saber dos homens do Conselheiro, disse: "Há dias não os vejo, não sei de seu paradeiro".
Não acreditaram em mim e começou ali a minha tortura; foram horas, levei socos, chutes e tive parte dos dedos e orelhas cortados. Como eu nada sabia e não tinha o que contar, nada falei, mas acharam que eu os  estava acobertando, e por fim fui amarrado pelas mãos e puxado por corda atada a sela de um cavalo. A dor era imensa, a esfoliação com a terra e as pedras ardia, senti a carne se desprendendo dos meus ossos, mas como Deus é misericordioso eu desmaiei. Ali desacordado fui largado.
Horas depois, meu filho mais velho veio me ajudar nas lidas da roça e me encontrou ali caído e coberto de sangue, mal respirava. O desespero tomou conta do rapaz, ele não sabia se me carregava ou ia procurar ajuda, porém como a cidade era longe e ele não conseguiria me levar, foi em busca do socorro como um desesperado. Ao chegar na cidade foi procurar pelo doutor e contou o ocorrido. Vieram a galope, mas ao chegarem já me encontraram sem vida.
Dias de agonia passei, não conseguia perdoar meus agressores e por isso não aceitei o auxílio dos nossos mensageiros de luz, eu queria vingança e ela me cegou. Segui as tropas como se pudesse atacá-los, não sei quanto tempo passou,  até que me cansei ao ver que aquilo que eu queria eu não estava conseguindo e só mal a mim fazia. Eu estava um farrapo humano.
Chorei e pedi a Deus socorro, e logo fui acolhido. Hoje trabalho sob a bandeira da Umbanda, na linha de nosso pai Xangô, tento levar a justiça a quem nos procura, a mesma justiça que eu achei não ter tido, só não sabia que estava resgatando erros de outras vidas.
Por isso meus irmãos, vocês são frutos do que plantaram, ajam com Deus no coração.
Agradeço ao meu pai Oxalá a oportunidade de cumprir essa nobre missão junto ao meu filho.
KAÔ KABECILÊ!!!

Orlando Garcia (aluno de sacerdócio - FUCESP)

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