terça-feira, 3 de julho de 2012

GIRASSOL




GIRASSOL


Era uma manhã de outono, começava a raiar o dia, o sol aparecia entre as montanhas que circundavam a nossa aldeia. Nossa aldeia ficava na região central do Brasil, lugar quente e de vasta vegetação, água ali era o que não faltava.
Ao principiar o dia um grito de dor acordou a todos, era minha mãe Cabocla Amanary (Água de Chuva) que estava dando a luz. Várias mulheres a ajudavam, pois o parto estava se complicando, lá fora os homens rodeavam a fogueira e faziam as suas orações, cada um ao seu modo. Colocavam água para aquecer. Cabocla Eirubá (Abelha Rainha), a índia mais experiente em partos, começou seu ritual. Uma hora e meia de agonia se passaram, ouve-se o choro de uma criança. Eirubá saindo da oca com a criança nos braços levantou-a acima da cabeça e chamou meu pai Aracaê (Pássaro Briguento), "Aqui está o seu filho". Nessa hora o sol bateu em meu rosto e meu pai falou "Girassol". E esta imagem da índia com o braço levantado representa eu até hoje, um índio segurando um sol ao alto da cabeça. Este foi o nome que recebi nessa vida.
Vivíamos bem, como falei o lugar era fértil, somente a cheia é que nos preocupava.
Cada um de nós tínhamos nossas obrigações. Durante a juventude eu caçava e pescava.
Ainda na adolescência casei-me com Tainaçã (Estrela da Tarde). Meus dias foram de muita felicidade , eu a amava e tudo fazia para vê-la feliz. Tivemos sete filhos, cinco mulheres e dois homens.
Pouco antes de completar os quarenta anos a perdi. Ela começou com dores na região da barriga. Essas dores só aumentavam, todo tipo de erva foi usado, mas nada amenizava essas dores, e um dia não mais acordou.
A minha Estrela da Tarde foi embora, deixando apenas um vazio no meu coração. Minha vida parecia que também tinha acabado. Parei de pescar, parei de caçar e só comia o que me levavam.
Certa vez fui chamado a ser um dos conselheiros e juiz do meu povo, aí comecei a sentir que minha vida não tinha acabado, vi que eu tinha valor para outros e me dediquei de corpo e alma pela justiça.
Morri velho, já tinha passado por grandes perdas em minha vida, meus pais, meu grande e único amor, meus dois filhos e uma filha.
Hoje resgatado pelas falanges de nosso pai Xangô, trabalho sob a bandeira da umbanda, tendo meu filho como instrumento para levar a quem nos procura Paz, Amor e Justiça.
SALVE A UMBANDA, SALVE MEU PAI XANGÔ.
KAÔ KABECILÊ....


Orlando Garcia (Aluno de Sacerdócio - FUCESP)

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