GIRASSOL
Era
uma manhã de outono, começava a raiar o dia, o sol aparecia entre
as montanhas que circundavam a nossa aldeia. Nossa aldeia ficava na
região central do Brasil, lugar quente e de vasta vegetação, água
ali era o que não faltava.
Ao
principiar o dia um grito de dor acordou a todos, era minha mãe
Cabocla Amanary (Água de Chuva) que estava dando a luz. Várias
mulheres a ajudavam, pois o parto estava se complicando, lá fora os
homens rodeavam a fogueira e faziam as suas orações, cada um ao
seu modo. Colocavam água para aquecer. Cabocla Eirubá (Abelha
Rainha), a índia mais experiente em partos, começou seu ritual. Uma
hora e meia de agonia se passaram, ouve-se o choro de uma criança.
Eirubá saindo da oca com a criança nos braços levantou-a acima da
cabeça e chamou meu pai Aracaê (Pássaro Briguento), "Aqui
está o seu filho". Nessa hora o sol bateu em meu rosto e meu
pai falou "Girassol". E esta imagem da índia com o braço
levantado representa eu até hoje, um índio segurando um sol ao alto
da cabeça. Este foi o nome que recebi nessa vida.
Vivíamos
bem, como falei o lugar era fértil, somente a cheia é que nos
preocupava.
Cada
um de nós tínhamos nossas obrigações. Durante a juventude eu
caçava e pescava.
Ainda
na adolescência casei-me com Tainaçã (Estrela da Tarde). Meus dias
foram de muita felicidade , eu a amava e tudo fazia para vê-la
feliz. Tivemos sete filhos, cinco mulheres e dois homens.
Pouco
antes de completar os quarenta anos a perdi. Ela começou com dores
na região da barriga. Essas dores só aumentavam, todo tipo de erva
foi usado, mas nada amenizava essas dores, e um dia não mais
acordou.
A
minha Estrela da Tarde foi embora, deixando apenas um vazio no meu
coração. Minha vida parecia que também tinha acabado. Parei de
pescar, parei de caçar e só comia o que me levavam.
Certa
vez fui chamado a ser um dos conselheiros e juiz do meu povo, aí
comecei a sentir que minha vida não tinha acabado, vi que eu tinha
valor para outros e me dediquei de corpo e alma pela justiça.
Morri
velho, já tinha passado por grandes perdas em minha vida, meus pais,
meu grande e único amor, meus dois filhos e uma filha.
Hoje
resgatado pelas falanges de nosso pai Xangô, trabalho sob a bandeira
da umbanda, tendo meu filho como instrumento para levar a quem nos
procura Paz, Amor e Justiça.
SALVE
A UMBANDA, SALVE MEU PAI XANGÔ.
KAÔ
KABECILÊ....
Orlando
Garcia (Aluno de Sacerdócio - FUCESP)
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