terça-feira, 3 de julho de 2012

AGONIAS DE UM ERÊ


AGONIAS DE UM ERÊ


Eu morava num sítio não muito grande no interior de São Paulo. Minha familia era pequena, apenas 5 pessoas. Eu Pedrinho, meu avô, sr Abelardo, senhor de idade já avançada, viúvo há muitos anos. Residia numa casa afastada da nossa onde morava só, porém compartilhava conosco das refeições e dos afazeres do sítio. Entre eles ajudava meu pai na lida, no cuidado com os animais e em tudo aquilo que ele ainda conseguia fazer. Seu Antonio, meu pai, homem rude, trabalhador árduo das lidas do dia. Tudo que ali era plantado e produzido era comercializado ou melhor era barganhado por aquilo que precisávamos, na cidade que ficava aproximadamente uns 40 km de onde morávamo. Raras vezes eu fui com meu pai a cidade, mas as vezes em que fui fiquei encantado com a movimentação, com o corre-corre, com as crianças bem vestidas, com o doces embrulhados naqueles papéis coloridos. Minha mãe dona Terezinha, mulher de pulso forte comandava a tudo e a todos com firmeza, inclusive meu pai. Todos aceitavam o que ela determinava.
Emanuel meu irmão pequeno e único de três anos, vivia agarrado a barra da saia de minha mãe, não saía da casa para quase nada.
Eu, moleque arteiro, poucas vezes recebia meus colegas para brincar em meu sítio, pois todos moravam longe.
Bagunçava muito o que dava muita dor de cabeça para minha mãe. Quando escutava o grito "Pedrinho!" ou alguém batendo na porta chamando "Dona Terezinha!", meu cabelo já ficava em pé, pois sabia que bronca iria receber e olha que ela pegava firme com a vara de marmelo. Eu adorava brincar com bolinhas, tudo que referia-se a bolinhas, ou tivesse o formato de uma bola, como por exemplo, um limão, uma pequena laranja, mamona, era meu divertimento predileto. Adorava caçar passarinhos, montar arapucas, mas como sempre, muitas vezes não obedecia minha mãe. Toda vez que podia eu pregava uma peça em meu avô. Amarrava lençóis no alto próximo a sua cama enquanto ele dormia, para que quando acordasse pensasse ser assombrações, pois ele as temia. O mesmo contava para minha mãe, e novamente eu entrava na vara de marmelo.
Uma vez e a última desobedeci minha mãe, ela me falou para não ir pegar as pedrinhas na beira de um córrego que passava no fundo do nosso sítio. Pedrinhas coloridas de forma cilíndricas de que eu tanto gostava. Mas como sempre, teimoso, não obedeci, fui catá-las. Entrei no rio, fiquei fascinado, era uma pedrinha redonda aqui, umas de cor diferente ali, e fui me empolgando a pegá-las, mas quando menos percebi, pisei em falso, fui levado pela água e pela correnteza do rio, rolei, aquele desespero tomou conta de minha alma, não tinha um galho, não tinha nada em que eu pudesse me segurar, nada que eu pudesse fazer para reverter aquela situação, simplesmente apaguei. Horas depois, ou dias, não sei precisar, acordei deitado no gramado próximo a minha casa. Ao abrir os olhos, notei que no sítio em que eu morava estava repleto de gente, muitos daqueles meninos que brincavam comigo também estavam lá, porém seus semblantes, não eram de crianças que vieram para brincar, trajavam roupas de cores escuras. Mais precisamente na sala da minha casa estava repleto de gente, minha mãe debruçada sobre um caixão pequeno de cor branca, chorava copiosamente. Nada fazia com que ela se conformasse. Ao seu lado meu pai chorava desesperadamente e a culpava pelo fato ocorrido. Quando cheguei mais perto e consegui olhar no caixão, para minha surpresa, meu corpo estava lá, e minha mãe chorava, gritando "meu filho, por quê você fez isso? Por quê não me obedeceste?". E eu gritava: "Eu estou aqui! Não estão me vendo, eu não morri!", mas niguém me ouvia, nada do que eu falava era ouvido por qualquer um que estava ali Meu pai que a culpava até aquele momento foi levado para um quarto no fundo pelos meus tios, acompanhado do meu avô, ele chorava compulsivamente, como se algo tivesse pesando sobre seus ombros. Eu corri para um lado, eu corri para outro, tentava falar com um, tentava falar com outro, e ninguém me ouvia. Entrei em desespero, comecei a chorar, pedi a meu Pai do Céu que me ajudasse: no mesmo instante uma luz forte adentrou aquele recinto. Não pude enxergar mais ninguém. A claridade era imensa, entre essas luzes apareceram duas pessoas, um senhor de cor escura, uma cor que raras vezes eu vi e uma moça clara e mais alta que esse senhor. Ambos estenderam a mão em minha direção, e eu não sei porque as acolhi. Fui levado dali. Após dias ou meses, não sei precisar, fui me recuperando e hoje graças a linha de Cosme e Damião estou recuperado e trabalhando na linha da Umbanda sob a bandeira branca de nosso pai Oxalá. Atendo na linha dos Erês compartilhando com esse filho de umbanda a missão de trazer a alegria, a espontaneidade das crianças, para tirar um pouco a agonia e o sofrimento que os adultos relutam em trazer consigo. Trago toda a ingenuidade das crianças para que os adultos ajam como as crianças que quando gostam, não sabem ser dissimuladas e quando não gostam, não escondem os sentimentos.
Agradeço ao meu pai Oxalá, por compartilhar com esse irmão, a oportunidade de estar redimindo coisas de vidas passadas, que nessa vida última, apenas me foram necessários 6 anos para pagar o que eu tinha deixado para trás. E por isso digo: SALVE A UMBANDA, SALVE A UMBANDA, SALVE A UMBANDA... SALVE COSME DAMIÃO...


Orlando Garcia (Aluno de Sacerdócio - FUCESP)Eu

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