quinta-feira, 26 de julho de 2012

CICATRIZES

                                                               CICATRIZES


Desde pequeno aprendi a dar valor ao trabalho; aos dez anos já ajudava nas feiras e mercados, a senhoras a levarem suas compras para casa. Também ajudava aos comerciantes na limpeza e reposição de seus estoques.
Vindo de uma família muito pobre, minha mãe dona Ana era lavadeira, passava o dia inteiro a beira do ribeirão com bacias de roupas. Meu pai senhor Antonio, antes de se tornar um alcoólatra era um excelente pintor, agora já não podíamos contar com ele. Muito amoroso e de bom coração, mas um fraco em relação ao vício.
Minha mãe não era muito de mostrar o seu afeto, seus modos rudes nos impedia de se aproximar dela.
Aos doze anos fiz a minha primeira caixa de engraxate, comecei a ganhar um pouco melhor, isto fez com que melhorássemos a nossa situação financeira.
Devido ao meu esforço fui convidado a trabalhar num empório de secos e molhados de um português senhor Avelino; lá eu fazia um pouco de tudo.
Comecei a me enamorar por Maria Isabel. Uma bela mulata filha da empregada do meu patrão.
Aos dezesseis anos, já namorando com a minha primeira e única namorada que tive, começávamos a fazer planos para o futuro, porém a vida nos prega peças que nos deixa cicatrizes que podem mudar o nosso futuro.
Voltávamos para casa após um dia de trabalho, caminhávamos a beira do mar quando fomos atacados por um grupo de uns treze meninos, fui roubado, apanhei até desacordar. Maria Isabel sofreu todo tipo de sevícias e após este ato animalesco a jogaram ao chão, ao cair bateu a cabeça contra uma árvore.
Três dias após a internação tive alta, mas minha amada, a queda fez com que quebrasse o pescoço morrendo instantaneamente. ao saber do ocorrido chorei e prometi vingança. Deste dia em diante minha vida mudou.
Saindo do hospital não fui mais trabalhar, fui atrás dos assassinos da minha Maria Isabel. Vários dias se passaram até que descobri os seus paradeiros.
Montei uma estratégia e segui a risca, fui seguindo-os até cada um ficar sozinho, e assim apunhalei um a um. Demorou, mas não deixei nenhum com vida.
Para minha casa não podia mais voltar, a polícia estava em meu encalço. Deste dia em diante vivi a margem da sociedade, praticando roubos e furtos.
Durante um roubo a uma mercearia escutei o estampido de uma arma de fogo, forte dor no estomago senti, meus olhos se turvaram e desmaiei.
Com a alma fora do corpo, vi sangue escorrendo pela boca do meu corpo inerte ao chão. Fui parar num lugar em que pessoas que viveram como eu vivi vão parar. Lá era um local escuro, gritos de dor e súplicas ecoavam por todos os cantos.
Passei um bom tempo neste local até que uma falange de espíritos sem luz me levaram para trabalhar em terreiros onde todo tipo de serviço era solicitado, demorou muito tempo para que eu conseguisse ser respeitado. Assim fui ganhando os tridentes que eram as provas da minha evolução, hoje possuo os sete tridentes, trabalho na umbanda na linha dos Exus mirins.
Tento alcançar a minha luz e agradeço a oportunidade que meu pai Oxalá me dá de junto ao meu irmão, levar a caridade, fé e esperança a quem nos procura.
Salve a Umbanda!
Salve Exú Mirim!

Orlando Garcia (Aluno de Sacerdócio - FUCESP)

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