segunda-feira, 9 de julho de 2012

SOLDADO DO ALÉM

SOLDADO DO ALÉM

Era filho único de uma família militar onde meu pai serviu ao trono a vida inteira, tornando-se um  oficial respeitadíssimo; não pude fugir ao meu destino.
Em minha família o tratamento com todos sempre foi muito sério e até mesmo severo; logo de pequeno já era tratado como um mini soldado.
Antes de passar a fase adulta, ainda na adolescência já me encontrava entre as fileiras da tropa real, mesmo sendo filho de um oficial não tive privilégios, comecei como um qualquer, pois esse era o desejo de meu pai.
No quartel comecei aprender táticas de guerrilha e contra-guerrilha que me salvaram de inúmeras batalhas. Lá também tínhamos Ordem Unida, aquelas marchas que os soldados fazem em fileiras com comando ou sem comando ensaiadas,  usadas principalmente em desfiles.
Tínhamos também o combate corpo a corpo onde simulávamos lutas como na vida real. Lá aprendi que o filho chora e a mãe não vê e também que dentro do exército, nosso pai é a pátria e nossa mãe a bandeira.
Atuava pela infantaria, tropa que dá o primeiro combate e tenta fazer o maior estrago possível ao adversário. O risco de morte é maior, a tropa inimiga está completa, sem baixa alguma.
Perdi vários companheiros e outros que conseguiram voltar, estavam mutilados de algum membro.
Aos poucos fui ganhando o respeito da tropa e dos comandantes, embora jovem,  a batalha estava no meu sangue.
Por isso nunca me casei e pouquíssimas mulheres conhecí, não queria deixá-la viúva, sabia que saía, não sabia se voltava.
Com o coração empedrecido, durante a batalha não poupava ninguém, homens, mulheres e até mesmo crianças. Inimigo era inimigo.
Assim foi a vida desse soldado, promoções e medalhas recebi várias, o que deixava meu pai coberto de orgulho.
Anos depois perdi minha mãe, isso fez com que meu pai se debilitasse, adoecendo e contraindo o Mal de Alzheimer, nem de mim mesmo se lembrava.
Agora sozinho no mundo me dediquei de corpo e alma  ás batalhas, isso só me dava mais confiança. A espada que era de meu pai agora era minha, comecei a fazer marcas ao lado dela para cada vida que eu tirava, até ela estar marcada por inteiro.
Um dia já com a batalha vencida, fui recolher um dos meus soldados que estava ferido ao solo, quando senti o aço da espada me dilacerando pelas costas, só deu tempo de virar e ver o responsável pela minha morte. Era um menino de doze a treze anos, segurando uma pequena espada na mão e tremendo muito. Ainda tinha força para lhe cortar a cabeça, mas simplesmente o agradeci. Agora eu estava livre, não mais teria batalhas terrenas para lutar.
Depois de muito tempo vagando entre as sombras, fui resgatado, tratado e trabalho ainda na infantaria, abrindo o caminho dos muitos que procuram ao meu filho, ajudando-os nas suas batalhas diárias, sob a bandeira da Umbanda e o comando do nosso pai Ogum.

OGUNHÊ!!! PATACORI OGUM !

Orlando Garcia (aluno de sacerdócio - FUCESP)

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