sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013


PRETA VELHA MARIA CONGA DE ANGOLA



Tempo difícil, irmão caça irmão a troco de mixaria...
Navios negreiros voltam ao porto ao norte da África.
Entre os escravos ali vendidos está uma moça forte e alta. Dentro da embarcação essas moças passam por todo tipo de sevícias, humilhadas, maltratadas, pior que um animal.
Chegando em terras brasileiras, o navio aporta no porto do Brasil, mais conhecido hoje como Porto de Salvador, onde ficava a capital federal.
Devido o avançar das horas, tem que ficar mais uma noite dentro da embarcação do inferno. Na manhã seguinte são levados ao forte São Marcelo que ficava algumas centenas de metros dali, esperando a hora do leilão.
Vendida em praça pública, é comprada e levada a fazenda Nossa Senhora de Fátima. Lá recebe o nome de Maria. Devido a região onde nasceu é chamada de Maria Conga. Por ter facilidade com o português é chamada de Maria Conga de Angola.
É separada das demais negras e fica na procriação. Após perder vários filhos em fase de amamentação, pois eram vendidos sem que nunca mais os visse, restava apenas o consolo de pedir aos Orixás que cuidasse de sua prole.
Em um ato de desespero e tristeza pela perda dos seus, Maria faz uso de ervas abortivas, ficando dias com hemorragia que quase a levaram para Aruanda. Já recuperada, fica tomando conta dos filhos de outras negras e quando já está mais forte é mandada ao Canavial para cortar as canas que os meninos amontoavam para os negros carregarem.
Fica sabendo através dos outros escravos que seu filho está na fazenda ao lado.
Um dia consegue dar uma fugida e ir até a fazenda vizinha e vê um negro forte, alto sem camisa; fica extasiada com sua beleza, volta chorando de emoção.
Na tarde seguinte foge novamente e aí sim consegue abraçá-lo e se apresentar; ambos choram de felicidade.
Sempre que podia, fugia para ver o filho, até que um dia foi pega. Presa aos grilhões, por ter a canela fina, consegue fugir e vai de novo ao encontro do filho. Ao voltar, apanha muito, mas agora as correntes são presas em suas pernas e com peso para que não fuja mais.
Quando liberta do castigo, volta a lida e descobre que seu filho morrera tentando fugir.
Aquela negra alegre e risonha torna-se uma mulher amarga e “reclamona”, dando bronca em todo mundo.
Passa a trabalhar cuidando dos doentes até que um dia Omolu vem buscá-la. Do canto onde costumava ficar não se ouvia nada, os negros procuraram e não a encontraram mais.
Os capatazes fazem uma caça em busca da velha, mas nada encontram, nem rastro. Seu corpo simplesmente desapareceu.
Daquele dia em diante até os brancos começam a tratá-la como Santa.
Ela gosta de cachimbo branco, blusa rajada de branco e preto e lenço na cabeça. E hoje, atende praticando a cura e ajudando as mães que procuram e querem melhorar os seus filhos.