quinta-feira, 26 de julho de 2012

MACHADO DA JUSTIÇA

MACHADO DA JUSTIÇA


Capitania de São Tomé, onde hoje é o Rio de Janeiro, mais precisamente a cidade de Campos de Goytacazes, lá vivia minha tribo.
Goytacazes significa corredor, nadador e comedor de gente para os brancos.
Diferente da maioria dos índios brasileiros, éramos mais claros e mais altos. Desconfiávamos de tudo e de todos, pouco contato tínhamos com outras tribos e os brancos, somente um de nós fazia o contato para a troca de mercadorias, fornecíamos mel, cera, pesca e caça e recebíamos utensílios agrícolas, facões, bebidas alcoólicas e miçangas, e outras coisas da civilização.
Os produtos trocados eram deixados próximo ao rio, num local pré combinado. Lá eles pegavam e deixavam o que fora acordado. Quando algum se achava mais esperto, só levava e não deixava; mais abaixo o rio se estreitava e nós já deixávamos uma emboscada preparada, por isso a fama de comedor de gente.
Para nós os rios e lagos eram sagrados, só bebíamos água de cacimbas e bicas.
Os nossos mortos eram enterrados em “igaçabas” (pote de barro).
Eu quando completei trinta anos fui escolhido para fazer o contato com os brancos.
Houve uma festa, nesta festa meninos que completavam treze anos tiveram a cabeça raspada, somente a parte de cima da cabeça onde para nós o contato com os espíritos acontece; o resto do cabelo permanecia longo.
Uma certa vez um grupo de homens brancos tentaram nos ludibriar, quando chegaram ao afunilamento do rio, chuva de flechas caíram sobre eles, poucos saíram vivos. Desse dia em diante sofremos vários ataques, mas o pior não foi o ataque, foram peças de roupas deixadas em nossas trilhas. Quando a achávamos, na nossa ingenuidade vestíamos e ao chegar a aldeia éramos motivo de risos de todos; só que essas roupas estavam contaminadas com o vírus da varíola e quase dizimou o meu povo.
Nessa época eu também faleci pouco antes de um grande massacre que dizimou o meu povo, foram aproximadamente doze mil mortes. Meu espírito até hoje busca justiça.
Trabalho na umbanda sob a proteção de nosso pai Xangô, utilizando meu filho como aparelho para continuar atuando com o meu machado, levando a quem nos procura a justiça que não tive.
José de Alencar conta mais uma estória de injustiça feita contra um de nós, Peri que apaixonou-se por Cecília filha de um rico português.
Agradeço ao meu pai Oxalá, a Xangô e a meu filho por continuar buscando a justiça que não foi dada ao meu povo.
Batalho pela lei Divina...
Salve a Umbanda!!!
Kaô Kabecilê!!!

Orlando Garcia (Aluno de sacerdócio - FUCESP)

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