terça-feira, 3 de julho de 2012

TRAJETÓRIA DE UM MALANDRO


TRAJETÓRIA DE UM MALANDRO


Nasci no nordeste brasileiro; desde pequeno fui obrigado a enfrentar as dificuldades da vida, morando num local muito humilde onde a necessidade fazia parte do nosso cotidiano. Vivia pelas ruas onde algumas vezes conseguia algo para nossa familia, dado por pessoas de bom coração; outras vezes eu conseguia surrupiando dos mais desatentos.
Na adolescência aprendi a arte da capoeira e das cartas do baralho e disso tirava o meu sustento. Minha familia era muito grande, com irmãos espalhados por esse Brasil afora. Logo também tive que procurar a vida em outro lugar, pois ali minha vida teria sido mais curta.
Já na capital federal, mais precisamente no bairro da Lapa, subúrbio carioca tentei levar a vida honestamente, procurei emprego, mas como não tinha qualificação, não consegui. Tive que voltar ao jogo, ora cartas, ora sinuca; disso tirava o meu dinheiro.
Conheci muitas mulheres, principalmente as da noite, mas somente uma foi dona do meu coração. Era linda, com cabelos encaracolados, olhos negros como a asa da graúna, chamava-se Maria, mas era conhecida como Maria Padilha. Mulher forte e decidida, devido seus conhecimentes muitas vezes me tirou de várias enrascadas. Quando não era ela, era o meu punhal e minha capoeira que me livravam de brigas e da polícia.
Essas divergências se davam por homens que se achavam lesados ou ludibriados durante o jogo, ou por maridos enciumados, me responsabilizando por pulada de cerca de suas esposas. Assim foi a vida desse malandro até os 33 anos, quando fui pego de surpresa por um desafeto e apunhalado. A dor era imensa, ardia, meus sentidos foram sumindo, logo tudo escureceu. Acordei num local escuro, repleto de lama. Parecia um brejo, só que pela lama arrastavam-se pessoas em situação horrível, pareciam zumbis querendo agarrar a todos que por eles passavam, na tentativa desesperada de sair daquela situação.
Eu aos poucos consegui achar um local mais elevado e seguro, lá comecei a rever toda a minha vida, e vi que nada de bom havia feito para mim ou para qualquer pessoa que conheci, assim senti que minha vida tinha passado em vão. Chorei como nunca havia chorado, quando parei senti que de meu peito havia sumido toda mágoa, me senti bem melhor. O local onde eu estava tinha mudado, já não era o mesmo que eu estava anteriormente. Agradeci a Deus e a Ogum, meu orixá de devoção e supliquei por ajuda.
Pouco depois, irmãos de luz vieram em meu socorro. Assim hoje, já recuperado tento ganhar luz, trabalhando sob a bandeira da Umbanda, usando meu filho como instrumento. Trabalho trazendo alegria e a minha magia, e assim tirando de quem nos procura, toda a feitiçaria.
Salve a linha dos Malandros. Salve seu Zé Pilintra...



Orlando Garcia (Aluno de sacerdócio - FUCESP).

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