TRAJETÓRIA
DE UM MALANDRO
Nasci
no nordeste brasileiro; desde pequeno fui obrigado a enfrentar as
dificuldades da vida, morando num local muito humilde onde a
necessidade fazia parte do nosso cotidiano. Vivia pelas ruas onde
algumas vezes conseguia algo para nossa familia, dado por pessoas de
bom coração; outras vezes eu conseguia surrupiando dos mais
desatentos.
Na
adolescência aprendi a arte da capoeira e das cartas do baralho e
disso tirava o meu sustento. Minha familia era muito grande, com
irmãos espalhados por esse Brasil afora. Logo também tive que
procurar a vida em outro lugar, pois ali minha vida teria sido mais
curta.
Já
na capital federal, mais precisamente no bairro da Lapa, subúrbio
carioca tentei levar a vida honestamente, procurei emprego, mas como
não tinha qualificação, não consegui. Tive que voltar ao jogo,
ora cartas, ora sinuca; disso tirava o meu dinheiro.
Conheci
muitas mulheres, principalmente as da noite, mas somente uma foi
dona do meu coração. Era linda, com cabelos encaracolados, olhos
negros como a asa da graúna, chamava-se Maria, mas era conhecida
como Maria Padilha. Mulher forte e decidida, devido seus
conhecimentes muitas vezes me tirou de várias enrascadas. Quando não
era ela, era o meu punhal e minha capoeira que me livravam de brigas
e da polícia.
Essas
divergências se davam por homens que se achavam lesados ou
ludibriados durante o jogo, ou por maridos enciumados, me
responsabilizando por pulada de cerca de suas esposas. Assim foi a
vida desse malandro até os 33 anos, quando fui pego de surpresa por
um desafeto e apunhalado. A dor era imensa, ardia, meus sentidos
foram sumindo, logo tudo escureceu. Acordei num local escuro,
repleto de lama. Parecia um brejo, só que pela lama arrastavam-se
pessoas em situação horrível, pareciam zumbis querendo agarrar a
todos que por eles passavam, na tentativa desesperada de sair daquela
situação.
Eu
aos poucos consegui achar um local mais elevado e seguro, lá comecei
a rever toda a minha vida, e vi que nada de bom havia feito para mim
ou para qualquer pessoa que conheci, assim senti que minha vida tinha
passado em vão. Chorei como nunca havia chorado, quando parei senti
que de meu peito havia sumido toda mágoa, me senti bem melhor. O
local onde eu estava tinha mudado, já não era o mesmo que eu estava
anteriormente. Agradeci a Deus e a Ogum, meu orixá de devoção e
supliquei por ajuda.
Pouco
depois, irmãos de luz vieram em meu socorro. Assim hoje, já
recuperado tento ganhar luz, trabalhando sob a bandeira da Umbanda,
usando meu filho como instrumento. Trabalho trazendo alegria e a
minha magia, e assim tirando de quem nos procura, toda a feitiçaria.
Salve
a linha dos Malandros. Salve seu Zé Pilintra...
Orlando
Garcia (Aluno de sacerdócio - FUCESP).
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